Perguntas Comuns Sobre Ateísmo e Suas Respostas

Este documento contém respostas a questões levantadas repetidamente no newsgroup da Usenet alt.atheism. Os pontos cobertos aqui são aqueles que não estão presentes no documento "Uma Introdução ao Ateísmo"; aconselha-se que você leia esse artigo também antes de postar no newsgroup.

Não se pretende que essas respostas sejam absolutas ou definitivas. O propósito de documentos FAQ não é reprimir o debate, mas aumentar o seu nível. Se você tem algo a dizer a respeito dessas questões que não esteja coberto pela resposta dada, por favor sinta-se à vontade para colocar sua questão no newsgroup.

Resumo do Conteúdo
Qual é o propósito do newsgroup alt.atheism?
Adolf Hitler era ateu!
A Bíblia prova
A Aposta de Pascal (Por que Deus é uma aposta segura)
Senhor, Mentiroso ou Lunático? (Lord, Liar or Lunatic?)
O que é a Navalha de Occam?
Por que é bom crer em Jesus?
Por que eu sei que Deus existe
Einstein e "Deus não joga dados"
Todo mundo venera alguma coisa
Por que deve haver uma causa sem-causa
O Universo é tão complexo que deve ter sido projetado
Evidência Independente de que a Bíblia está correta
O Teorema da Incompletude de Gödel
George Bush sobre o ateísmo e o patriotismo
Eu sei onde é o inferno!
Procuram-se contradições bíblicas
Os EUA são uma nação/estado cristão
Os EUA não são uma nação/estado cristão
Como ninguém conseguiu responder a esse ponto?
A Bíblia diz "Não Matarás"
O que significa "xian"?
A Bíblia diz que o pi é 3!

Qual o propósito do newsgroup alt.atheism?

"Por que existe um newsgroup sobre ateísmo? Por que os ateus se organizam em grupos? O que há para discutir?"

Muitas coisas são discutidas no alt.atheism, incluindo:
Se é razoável ou não fingir ser religioso a fim de evitar incomodar a família
Oração nas escolas
Discriminação contra ateus
Leis sobre comércio aos domingos
O Mito do Abuso de Crianças por Satanistas
Se uma pessoa deve ser um ateu em aberto ou "ficar no armário"
Como as sociedades religiosas caçam (sic) em novos estudantes universitários
Como se livrar de proselitistas indesejáveis
Se a religião é um perigo para a sociedade e/ou o individuo
Por que as pessoas tornam-se atéias

É claro, inevitavelmente o alt.atheis tende a atrair cristãos evangélicos procurando alguém para converter. A maioria dos leitores do newsgroup não quer ouvir sermões, embora alguns pareçam sentir um prazer perverso em arrasar postagens particularmente mal pensadas ou desinformadas.

Adolf Hitler era ateu!

"Hitler era ateu, e olhe o que ele fez!."

Adolf Hitler não era, absolutamente, um ateu. Como ele mesmo disse:

O homem com a mente voltada para o povo, em particular, tem o dever sagrado, cada um em sua denominação, de fazer as pessoas pararem de apenas falar superficialmente na vontade de Deus, e de fato realizar a vontade de Deus, e não deixar Deus ser profanado. [itálicos originais]

Pois Deus deu aos homens sua forma, sua essência, e suas habilidades. Qualquer um que destrua Sua obra está declarando guerra à criação do Senhor, a divina vontade. Assim sendo, que todo homem seja ativo, cada um em sua denominação se o agrada, e que todo homem tome como primeiro e mais sagrado dever opor-se a qualquer um que em sua atividade por palavra ou ação afaste-se dos limites de sua comunidade religiosa e tente intrometer-se em outra.

[...]

Assim, hoje eu acredito estar agindo de acordo com a vontade do Todo Poderoso Criador: me defendendo contra os Judeus, eu estou batalhando pela obra do Senhor. [itálicos originais]

Adolf Hitler, "Mein Kampf", tradução para o inglês de Ralph Mannheim.
Hitler certamente acreditava ser um cristão.
O Führer deu a conhecer àqueles envolvidos com a Solução Final que as mortes deveriam ser feitas o mais humanamente possível. Isso estava de acordo com sua convicção de que ele estava observando o mandamento de Deus de limpar o mundo dos parasitas. Ainda um membro em boa situação da Igreja de Roma apesar de detestar sua hierarquia ("Eu sou agora como antes, um católico, e sempre serei" [citando Hitler]), ele seguiu com seu ensinamento de que o Judeu era o assassino de Deus. O extermínio, assim sendo, podia ser feito sem dor na consciência uma vez que ele estava apenas agindo como a mão vingadora de Deus - contato que o fizesse impessoalmente, sem crueldade.

[John Toland (vencedor do Prêmio Pulitzer)
de "Adolf Hitler", pp 507, falando sobre o Outono de 1941.]
A citação "Eu sou agora como antes, um católico..." de Hitler foi registrada no diário de Gernhard Engel, um Ordenança da SS, em Outubro de 1941. Hitler estava falando em particular, não perante uma audiência em massa e assim é difícil desconsiderar o comentário como mentiras de propaganda.

É claro, alguém mau que acredita numa coisa não torna a crença errada. É também inteiramente possível que Hitler estivesse mentindo quando ele afirmou acreditar em Deus. Entretanto nós certamente não podemos concluir que ele era ateu. A Bíblia prova

"Na Bíblia está escrito que..."

A maioria dos ateus sente que a Bíblia é de precisão questionável, já que ela foi escrita há milhares de anos atrás por muitos autores que estavam registrando tradição oral que existia muitos anos antes. Assim, qualquer suposta "verdade" contida nela é de legitimidade questionável. Isso não quer dizer que a Bíblia não contenha nenhuma verdade, mas apenas que qualquer verdade deve ser examinada antes de ser aceita.

Muitos ateus também sentem que porque qualquer passagem está sujeita a "interpretação", qualquer alegação de que uma passagem "significa" uma coisa e apenas uma coisa, não é legítima.

Note que esse sentimento tende a se estender a outros livros.

É também notável para muitos ateus que os teístas tendem a ignorar outros livros religiosos igualmente plausíveis em favor daqueles de sua própria religião. A Aposta de Pascal (Por que Deus é uma aposta segura)

"Se você crer em Deus e no final estiver errado, você não perdeu nada - mas se você não crer em Deus e no final estiver errado, você irá para o Inferno. Assim sendo, é tolice se ateu"

Este argumento é conhecido como a Aposta de Pascal. Ele tem diversos erros.

Em primeiro lugar, ele não indica que religião seguir. De fato, há muitas religiões contraditórias e mutuamente exclusivas por aí. Isso é geralmente descrito como o problema de "evitar o inferno errado." Se uma pessoa é seguidora de uma religião, ele pode terminar na versão do inferno de outra religião.

Mesmo se assumirmos que há um Deus, isso não implica que há um deus único. Em qual deles devemos acreditar? Se acreditarmos em todos eles, como decidiremos quais mandamentos seguir?

Em segundo lugar, a declaração de que "Se você crer em Deus e no final estiver errado, você não perdeu nada" não é verdadeira. Suponha que você esteja crendo no Deus errado - o verdadeiro Deus pode te punir pela sua tolice. Considere também as mortes que têm resultado de pessoas rejeitando a medicina em favor da oração.

Outra falha no argumento é que ele é baseado na presunção de que as duas possibilidades são igualmente prováveis - ou no mínimo, que elas são de probabilidade comparável. Se, de fato, a possibilidade da existência de Deus for próxima de zero, o argumento se torna muito menos persuasivo. Assim infelizmente o argumento consegue apenas convencer aqueles que já acreditam.

Ainda, muitos sentem que para pessoas intelectualmente honestas, a crença deve ser baseada em evidência, com um pouco de intuição. Não é uma questão de vontade ou de análise custo-benefício.

Falando formalmente, o argumento consiste em quatro proposições:
A pessoa não sabe se Deus existe;
Não crer em Deus é ruim para a alma imortal da pessoa se Deus existir;
Crer em Deus não tem conseqüência se Deus não existe;
Assim sendo, é do interesse da pessoa crer em Deus.

Existem duas abordagens para o argumento. A primeira é ver a Proposição 1 como verdadeira e a Proposição 2 como conseqüência dela. O problema com essa abordagem, teoricamente, é que ela cria informação a partir da falta de informação. Isso é considerado inválido na teoria da informação. A Proposição 1 indica que a pessoa não tem informação sobre Deus - mas a Proposição 2 indica que uma informação benéfica pode ser obtida da absoluta falta de informação sobre Deus.

Isso viola a entropia da informação - foi extraída informação do nada sem nenhum "custo." A abordagem alternativa é afirmar que as Proposições 1 e 2 são ambas verdadeiras. O problema com isso é que a Proposição 2 é, então, basicamente uma afirmação que concorda com a posição cristã, e apenas um cristão concordaria com ela.

O argumento, dessa forma, implode para "Se você é um cristão, é do seu interesse crer em Deus" - uma tautologia vazia, que não é a maneira como Pascal pretendia que o argumento fosse visto. O maior motivo pelo qual a aposta de Pascal é falha é que se Deus é onisciente ele certamente saberá quem realmente crê e quem crê como um apostador. Ele rejeitará o ultimo... assumindo que ele realmente se importa se as pessoas crêem nele. Senhor, Mentiroso ou Lunático? (Lord, Liar or Lunatic?)

"Jesus existiu? Se não, então não há muito que se falar. Se ele existiu, ele chamou a si mesmo de Senhor. Isso significa que:
Ele era o Senhor;
Ele era um mentiroso;
Ele era um lunático.

"Não é provável que ele fosse um mentiroso, dada sua moralidade como descrita na Bíblia, e seu comportamento não soa como sendo um lunático. Assim, certamente nós devemos concluir que ele era o Senhor?"

Em primeiro lugar, note que esse argumento parte do princípio de que Jesus realmente existiu. Isso é no mínimo discutível.

Em segundo lugar, o argumento contém uma falácia lógica que nós podemos chamar de "trifurcação", por analogia com "bifurcação" (veja o documento Construindo um Argumento Lógico). Ou seja, o argumento tenta nos restringir a três possibilidades, quando na verdade há muitas mais.

Duas das alternativas mais prováveis são:
Ele foi citado erroneamente na Bíblia, e ele não afirmou ser o Senhor;
As histórias sobre ele foram fabricadas ou impregnadas de material fictício pelos primeiros cristãos.

Note que o Novo Testamento, Jesus não diz que ele é Deus. A afirmação foi feita pela primeira vez após a morte de Jesus e de seus doze discípulos.

Finalmente, note que a possibilidade de que ele tenha sido um "lunático" não é facilmente descartável. Mesmo hoje em dia no mundo ocidental há um grande número de pessoas que conseguiram convencer centenas ou milhares de seguidores de que eles são o Senhor ou seu Único Profeta Verdadeiro. Pessoas como L. Ron Hubbard, Sun Myung Moon, Jim Jones e Davis Koresh continuam a mascatear sua divindade. Em países mais supersticiosos, há literalmente centenas de messias contemporâneos.

Incidentally, the "Lord, Liar or Lunatic" argument is based on arguments in the book "Mere Christianity" by C.S. Lewis, the well known author and committed Christian. He wrote many books containing Christian apologia, and also a number of fantasy and SF novels influenced by Christian themes. His most famous books, the Narnia series of novels, are a fantasy retelling of many aspects of Christian faith, with Aslan taking the place of Jesus. Amusingly, some Christian fundamentalists in the USA have attempted to have Lewis's books banned from schools, alleging that they are "Satanic" in influence.

O que é a Navalha de Occam?

"As pessoas ficam falando sobre a Navalha de Occam? O que é isso?"

William de Occam formulou um princípio que se tornou conhecido como a Navalha de Occam. Em sua forma original, é dito "não multiplique as entidades desnecessariamente." Ou seja, se você pode explicar alguma coisa sem supor a existência de alguma entidade, então deve fazê-lo.

Hoje em dia quando as pessoas referem-se à Navalha de Occam, eles geralmente expressam-na de forma mais genérica, por exemplo como "tome a solução mais simples."

A relevância para o ateísmo é que nós podemos contemplar duas explicações possíveis para o que vemos ao nosso redor:
Existe um universo incrivelmente intrincado e complexo lá fora, que surgiu como resultado de um processo natural;
Existe um universo incrivelmente intrincado e complexo lá fora, e existe também um Deus que criou o universo.

Claramente esse Deus deve ser de complexidade não-zero. Dado que ambas as explicações encaixam nos fatos, a Navalha de Occam deve sugerir que nós deveríamos tomar a mais simples das duas - a solução número um.

Infelizmente, algumas pessoas argumentam que há uma terceira solução ainda mais simples:
Não há um universo incrivelmente intrincado e complexo lá fora. Nós simplesmente imaginamos que ele está lá.

Essa terceira opção nos leva logicamente ao solipsismo, que muitas pessoas julgam inaceitável.

Por que é bom crer em Jesus?

"Eu quero dizer às pessoas sobre as virtudes e benefícios da minha religião."

A pregação não é apreciada.

Sinta-se à vontade para falar sobre sua religião, mas por favor não envie mensagens que sejam sobre o tema "conversão." Tais postagens não pertencem ao alt.atheism e serão rejeitadas em alt.atheism.moderated (tente o newsgroup talk.religion.misc).

Você, é claro, não receberia bem mensagens de ateus para o seu newsgroup favorito em uma tentativa de te converter; por favor faça aos outros o que você gostaria que os outros fizessem a você!

Geralmente os teístas fazem suas afirmações básicas sobre Deus na forma de longas analogias ou parábolas. Esteja ciente de que os ateus já ouviram sobre Deus e conhecem as afirmações básicas sobre ele; se o único propósito de sua parábola é dizer aos ateus que Deus existe e traz salvação, você pode muito bem abster-se de postá-la, uma vez que ela não nos diz nada que nós já não tenhamos ouvido antes.

Por que eu sei que Deus existe

"Eu sei a partir da minha experiência pessoal e da oração que Deus existe."

Da mesma forma que muitos teístas têm evidências pessoais de que o ser que eles veneram existe, muitos ateus têm evidências pessoas de que tais seres não existem. Essa evidência varia de pessoa para pessoa.

Além do mais, sem querer desmerecer a sua evidência, muitas pessoas têm alegado todos os tipos de coisas estranhas - que eles foram abduzidos por ÓVNIS, visitados pelo fantasma de Elvis e assim por diante.

Einstein e "Deus não joga dados"

"Albert Einstein acreditava em Deus. Você acha que é tão esperto quanto ele?"

Einstein comentou uma vez que "Deus não joga dados [com o universo]." Essa citação é comumente mencionada para mostrar que Einstein acreditava no Deus Cristão. Usada dessa forma, ela está fora de contexto; ela se refere à recusa de Einstein em aceitar as incertezas indicadas pela teoria quântica. Alem disso, a formação religiosa de Einstein era mais judaica do que cristã.

Uma citação melhor mostrando o que Einstein pensava sobre Deus é a seguinte:

"Eu acredito no Deus de Spinoza, que revela a si próprio na harmonia ordenada do que existe, não em um Deus que se preocupa com destinos e ações dos seres humanos."
Einstein foi incapaz de aceitar a Teoria Quântica devido à sua crença em uma realidade objetiva e ordenada; uma realidade que não seria sujeita a eventos aleatórios e que não seria dependente do observador. Ele acreditava que a Mecânica Quântica era incompleta, e que uma teoria melhor não teria necessidade de interpretações estatísticas.

Até agora nenhuma teoria melhor foi encontrada e muitas evidências sugerem que nunca será.

Uma citação mais longa de Einstein aparece em "Science, Phylosophy and Religion", publicada pela Conferencia sobre Ciência, Filosofia e Religião em sua relação com o modo de vida democrático, New York, 1941. Nela diz-se:

Quanto mais o homem estiver imbuído com a regularidade ordenada de todos os eventos, mais firme se torna sua convicção de que não há lugar deixado pela regularidade ordenada para causas de uma natureza diferente. Para ele nem o governo do homem nem o governo do divino existirá como uma causa independente de eventos naturais. Para ser preciso, a doutrina de um Deus pessoal interferindo com os eventos naturais nunca poderá ser refutada [itálicos dele], no sentido real, pela ciência, pois essa doutrina pode sempre se refugiar naqueles domínios nos quais o conhecimento científico ainda não foi capaz de pôr o pé.

Mas estou convencido de que tal comportamento da parte dos representantes da religião será não apenas indigno, mas também fatal. Pois uma doutrina que não consegue se manter na luz clara, mas apenas na escuridão perderá necessariamente seus efeitos sobre a humanidade, com incalculável prejuízo ao progresso humano. Em sua luta para o bem ético, pregadores da religião devem ter a estatura para desistir da doutrina de um Deus pessoal, ou seja, desistir da fonte de medo e esperança que no passado colocou vasto poder nas mãos de sacerdotes. Em seus trabalhos eles terão que se servir daquelas forças que são capazes de cultivar o Bom, o Verdadeiro e o Belo na própria humanidade. Isso é, para ser claro, uma tarefa mais difícil, mas incomparavelmente mais digna...
Einstein também disse:
Era, é claro, uma mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que está sendo repetida sistematicamente. Não creio em um Deus pessoal e isso eu nunca neguei, mas sempre o expressei claramente. Se alguma coisa está em mim que possa ser chamada de religiosa então é a admiração ilimitada pela estrutura do mundo que a nossa ciência pôde revelar até agora.
A última citação é de "Albert Einstein: The Human Side", editado por Helen Dukas, e Banesh Hoffman, e publicado pela Princeton University Press. Também do mesmo livro:
Eu não creio na imortalidade do individuo, e eu considero que a ética seja uma preocupação exclusivamente humana sem qualquer autoridade super-humana por trás dela.
É claro, o fato de que Einstein escolheu não crer no cristianismo não implica por si que o cristianismo seja falso.

Todo mundo cultua alguma coisa

"Todo mundo cultua alguma coisa, seja dinheiro, poder ou Deus."

Se isso for verdade, todo mundo é politeísta. Os teístas se importam exatamente com as mesmas coisas que os ateus. Se as reações dos ateus a (por exemplo) suas famílias chegam à veneração então o mesmo ocorre com os teístas.

Além disso, ter algo como mais importante que todas as outras coisas não constitui "culto" por nenhuma definição significativa da palavra.

Por que deve haver uma causa sem-causa

"Conjuntos de números inteiros que tem um limite inferior têm um membro menor de todos, assim as correntes das causas devem todas ter um primeiro elemento, uma causa sem causa."

O conjunto dos números reais maiores que zero tem um limite menor definido, mas não tem membro menor. Ainda, mesmo se fosse verdadeiro que deve haver uma causa sem causa, isso não implica que essa causa deva ser uma entidade consciente sobrenatural, e especialmente não implica que tal entidade deva corresponder à descrição fornecida por qualquer religião em particular.

O Universo é tão complexo que deve ter sido projetado

"A presença de um projeto no universo prova que há um Deus. Certamente você não acha que tudo isso apareceu aqui apenas por acaso?"

Isso é conhecido como o Argumento do Desígnio.

É uma questão controversa se existe algum elemento de projeto no universo. Àqueles que crêem que a complexidade e diversidade das criaturas vivas na terra é evidência de um criador aconselha-se que leiam o newsgroup talk.origins um pouco.

O espaço aqui é insuficiente para resumir ambos os lados desse debate. Entretanto, a conclusão é que não há evidência científica em favor do assim chamado Criacionismo Científico. Além do mais, há bastante evidência, observações e teorias que podem explicar muitas das complexidades do universo e da vida na terra.

A origem do Argumento do Projeto é um sentimento de que a existência de alguma coisa tão intrincada como, digamos, um humano, é tão improvável que certamente não pode ter aparecido por acaso; que deve certamente haver alguma inteligência externa dirigindo as coisas de forma que os humanos surjam do caos deliberadamente.

Mas se a inteligência humana é tão improvável, certamente a existência de uma mente capaz de projetar um universo completo com seres conscientes não deve ser incomensuravelmente mais improvável? A abordagem usada para argumentar em favor da existência de um criador pode ser voltada contra a posição criacionista.

Isso nos leva ao tema familiar de "se um criador criou o universo, o que criou o criador?", mas com a adição de uma improbabilidade em espiral. O único caminho para sair dessa situação é declarar que o criado não foi criado e apenas "é" (ou "foi").

Daqui nós podemos muito bem perguntar o que está errado em dizer que o universo apenas "é" sem introduzir um criador. De fato, Stephen Hawking, em seu livro "Uma Breve História do Tempo", explica sua teoria de que o universo é fechado e finito em extensão, sem começo ou fim.

O Argumento do Desígnio é geralmente citado por analogia, no assim chamado Argumento do Relojoeiro.1 Pede-se a uma pessoa que imagine ter encontrado um relógio na praia. A pessoa conclui que ele foi criado por um relojoeiro ou que evoluiu naturalmente? É claro que a pessoa presume um relojoeiro. Da mesma forma que o relógio, o universo é intrincado e complexo; assim, diz o argumento, o universo deve ter um criador.

A analogia do Relojoeiro tem três erros em particular, acima e além daqueles comuns a todos os Argumentos de Desígnio. Em primeiro lugar, um relojoeiro cria relógios a partir de materiais pré-existentes, enquanto afirma-se que Deus criou o universo do nada. Esses dois tipos de criação têm claramente uma diferença fundamental, e a analogia é, portanto, bastante fraca.

Em segundo lugar, o relojoeiro faz relógios, mas há muitas outras coisas no mundo, se nós andarmos um pouco mais ao longo da praia e encontrarmos um reator nuclear, nós não concluiríamos que ele foi criado pelo relojoeiro. O argumento, portanto, sugeriria uma multiplicidade de criadores, cada um responsável por uma parte diferente da criação (ou um universo diferente, se você permitir a possibilidade de que possa haver mais de um).

Finalmente, na primeira parte do argumento do relojoeiro nós concluímos que o relógio não é parte da natureza porque ele é ordenado e, portanto está fora da aleatoriedade da natureza. Ainda, na segunda parte do argumento, nós partimos da posição de que o universo é obviamente não aleatório, mas mostra elementos de ordem. O Argumento do Relojoeiro é, portanto, internamente inconsistente.

Além das inconsistências do argumento do relojoeiro, é válido apontar que os sistemas biológicos e os sistemas mecânicos comportam-se de formas bem diferentes. O que é improvável para uma pilha de engrenagens não é necessariamente imporvável para uma mistura de moléculas biológicas.

Evidência Independente de que a Bíblia está correta

"Os eventos do Novo Testamento são confirmados por evidência documental independente. Por exemplo...."

Os escritos de Josephus são mencionados freqüentemente como evidência documental independente. Crê-se que as primeiras versões da obra de Josephus não mencionam Jesus ou Tiago; a versão existente discute João em um contexto não cristão. Muitos estudiosos crêem que o original mencionava Jesus e Tiago de passagem, mas que isso foi expandido por copistas cristãos. Várias "reconstruções" do texto original têm sido publicadas para essa finalidade. Bastante informação aparece na História Eclesiástica de Eusebius (cerca de 320 d.C.). Ela é inútil como material histórico devido à falsificação deliberada do ardiloso Eusebius que é geralmente reconhecido como "o primeiro historiador completamente desonesto da antiguidade." É a Eusebius a quem geralmente se atribui o titulo de autor desse material. Fora do Novo Testamento, as informações biográficas sobre Jesus são mais bem documentadas. Para maior informação, por favor consulte o arquivo FAQ do newsgroup soc.religion.christian.

O Teorema da Incompletude de Gödel

"O Teorema da Incompletude de Gödel demonstra que é impossível que a Bíblia seja ao mesmo tempo verdadeira e completa."

O Primeiro Teorema da Incompletude de Gödel diz que em qualquer sistema consistente formal que:
É suficientemente expressivo para modelar aritmética ordinária
Pode-se formular expressões que nunca podem ser provadas válidas ou inválidas ("verdadeiro" ou "falso") dentro do sistema formal.

(Tecnicamente falando, o sistema deve também ser recursivo, ou seja, deve haver um procedimento de decisão para determinar se uma dada sentença é um axioma dentro do sistema formal).

Essencialmente, todos os sistemas desse tipo podem formular o que é conhecido como o "Paradoxo do Mentiroso." A sentença clássica do Paradoxo do Mentiroso em português comum é "Esta frase é falsa."

Note que se uma proposição é indecidível, o sistema formal não pode nem mesmo deduzir que ela é indecidível.

A lógica usada em discussões teológicas é raramente bem definida, assim alegações de que o Teorema da Incompletude de Gödel demonstra que é impossível provar (ou refutar) a existência de Deus são inúteis isoladamente.

Pode-se trivialmente definir um sistema formal no qual seja possível provar a existência de Deus, simplesmente tendo a existência de Deus afirmada como um axioma. (Entretanto, isso é improvável de ser visto pelos ateus como uma prova convincente).

Pode ser possível ter sucesso em produzir um sistema formal construído em axiomas que tanto ateus quanto teístas concordem. Pode ser possível mostrar que o Teorema da Incompletude de Gödel é válido para esse sistema. Entretanto, isso ainda não demonstraria que é impossível provar que Deus existe dentro do sistema. Portanto, isso certamente não nos diria o que quer que seja sobre se é possível provar a existência de Deus em geral.

Note também que todos esse sistemas formais hipotéticos não nos dizem nada sobre a existência factual de Deus; os sistemas formais são apenas abstrações.

Outra alegação freqüente é que o Teorema da Incompletude de Gödel demonstra que um texto religioso (a Bíblia, o Livro dos Mórmons ou o que quer que seja) não pode ser ao mesmo tempo consistente e universalmente aplicável. Textos religiosos não são sistemas formais, então tais alegações são sem sentido.

George Bush sobre o ateísmo e o patriotismo

"Geoge Bush realmente disse que os ateus não deveriam ser considerados cidadãos?"

O diálogo seguinte teve lugar no aeroporto de Chicago entre Robert I. Sherman da American Atheist Press e George Bush, em 27 de agosto de 1988. Sherman é um jornalista conceituado, e estava presente a convite como um membro da comunidade da imprensa. O candidato Republicano à presidência estava lá para anunciar auxilio federal a Illinois devido a um desastre. A conversa voltou-se para as primárias presidenciais:
RS:
"O que o Sr. fará para conseguir os votos dos americanos que são ateus?"
GB:
"Eu acho que eu sou um tanto fraco na comunidade atéia. A fé em Deus é importante para mim."
RS:
"Certamente o Sr. reconhece iguais cidadania e patriotismo dos americanos que são ateus?"
GB:
"Não, eu não acho que os ateus devam ser considerados como cidadãos, e nem devam ser considerados patriotas. Essa é uma nação sob Deus."
RS:
"O Sr. apóia como um principio constitucional valioso a separação entre estado e igreja?"
GB:
"Sim, eu apóio a separação entre igreja e estado. Eu só não sou muito simpático com os ateus."

A UPI relatou em 8 de maio de 1989, que várias organizações atéias ainda estavam irritadas com as repercussões.

O diálogo apareceu na Boulder Daily Câmera na segunda-feira, 28 de fevereiro de 1989. Ele também pose ser encontrado na revista "Free Inquiry", outono, 1988, volume 8, número 3, página 16.

Em 28 de outubro de 1988, o Sr. Sherman teve uma confrontação com Ed Murnane, co-presidente da campanha Bush-Quayle de Illinois em 1988. Ela se referia ao processo que o Sr. Sherman havia movido para evitar que a Community Consolidates School District 21 (Chicago, Illinois) forçasse seu filho ateu da primeira série a prestar o juramento à bandeira dos Estados Unidos como "uma nação sob Deus" (a frase de Bush). A conversa seguinte teve lugar:
RS:
"A American Atheists moveu um processo sobre o juramento à bandeira ontem. A campanha Bush tem uma resposta oficial a essa moção?"
EM:
"É bobagem" (bullshit no original)
RS:
"O que é bobagem?"
EM:
"Tudo o que a American Atheists faz, Rob, é bobagem."
RS:
"Obrigado por me dizer qual é a posição oficial da campanha Bush sobre esse assunto."
EM:
"De nada."

Depois da eleição de Bush, a American Atheists escreveu a Bush pedindo-lhe que retratasse essa declaração. Em 21 de fevereiro de 1989, C. Boyden Gray, conselheiro do presidente, respondeu em formulário da Casa Branca que Bush definitivamente sustentava sua declaração original e escreveu:

"Como você já sabe, o Presidente é um homem religioso que não apóia o ateísmo e não crê que o ateísmo deva ser desnecessariamente encorajado ou apoiado pelo governo."
Para maiores informações, contate o American Atheists Veterans no endereço da Cameron Road da American Atheist Press.

Eu sei onde é o inferno!

"Eu sei onde é o inferno! O inferno é na Noruega!"

Há varias cidades chamadas "Hell" (Inferno) em vários paises do mundo, incluindo a Noruega e os EUA. Embora essa informação seja um tanto divertida quando se ouve pela primeira vez, os leitores do alt.atheism já estão um tanto cansados de ouvi-la toda semana. Procuram-se contradições bíblicas

"Alguém tem uma lista de contradições Bíblicas?"

A American Atheist Press publica um livro de bolso detalhando as contradições Bíblicas. Veja a mensagem sobre Recursos Ateus para listas de outros livros semelhantes. Há também arquivos contendo algumas contradições Bíblicas disponíveis no ftp.mantis.co.uk

Os EUA são uma nação/estado cristão

"Devido às crenças religiosas dos pais fundadores, os Estados Unidos não deveriam ser considerados uma nação cristã?"

Baseado nos escritos de vários importantes pais fundadores, é claro que eles não pretendiam que os EUA fossem uma nação cristã. Aqui estão algumas citações; há muitas mais.

"Que influência, de fato, as organizações eclesiásticas têm na sociedade? Em algumas instâncias elas têm sido vistas erigindo uma tirania espiritual sobre as ruínas da autoridade civil; em muitas instâncias elas tem sido vistas apoiando os tronos da tirania política; em nenhum caso elas têm sido as guardiãs das liberdades do povo. Os governantes que desejam subverter a liberdade pública podem ter achado o clero estabelecido um auxiliar conveniente. Um governo justo, instituído para assegurar e perpetuar a justiça não precisa deles"

James Madison, "A Memorial and Remonstrance", 1785.

"Eu quase estremeço quando penso no exemplo mais fatal dos abusos da culpa que a historia da humanidade preservou - a Cruz. Considere que calamidades esse dispositivo de culpa tem produzido"

John Adams, em uma carta a Thomas Jefferson.

"A Historia, eu creio, não fornece exemplo algum de um povo guiado por sacerdotes mantendo um governo civil livre. Isso marca o mais baixo grau de ignorância, do qual os seus lideres tanto políticos quanto religiosos vão sempre se aproveitar para seus próprios propósitos"

Thomas Jefferson ao Barão Von Humboldt, 1813.

"Eu não posso conceber de outra forma a não ser que Ele, o Pai Infinito, não espere ou exija veneração de nós, mas que Ele está infinitamente acima disso"

Benjamin Franklin, em "Articles of Belief and Articles of Religion", 20 de novembro de 1728.
Os EUA não são uma nação/estado cristão

"É verdade que George Washington disse que os Estados Unidos não são em qualquer sentido fundados sobre a religião cristã?"

Não. A citação que aparece freqüentemente está de fato no Artigo XI do Tratado de Trípoli de 1797 (8 Stat 154, Treaty Series 358):

Artigo 11

Uma vez que o governo dos Estados Unidos da América não é, em sentido algum, fundado sobre a Religião Cristã - assim como não tem em si nenhum caráter ou inimizade contra as leis, religião ou tranqüilidade dos muçulmanos - e como dito os Estados nunca entraram em nenhuma guerra ou ato de hostilidade contra qualquer nação maometana, é declarado pelos partidos que nenhum pretexto que surja de opiniões religiosas deve jamais produzir uma interrupção da harmonia existente entre os dois países.
O texto pode ser encontrado no Registro do Congresso ou em coletâneas de tratados tais como o "Treaties and Other International Agreements of the United States of América 1776-949" de Charles Bevans, volume 11 (pp. 1070-1080).

O texto em inglês do Tratado de Trípoli foi aprovado pelo Senado dos EUA em 7 de junho de 1797 e ratificado pelo Presidente John Adams em 10 de junho de 1797. Foi descoberta recentemente que a versão em árabe do tratado não apenas omite a citação, mas omite todo o Artigo XI.

A pessoa que traduziu o árabe para o inglês foi Joel Barlow, Cônsul Geral na Argélia, um amigo íntimo de Thomas Paine - e opositor do cristianismo. É possível que Barlow tenha inventado o Artigo XI, mas uma vez que nenhuma versão árabe do artigo pôde ser encontrada, é difícil afirmar.

Em 1806 um novo Tratado de Trípoli não mais contendo a citação foi ratificado.

Como ninguém conseguiu responder a esse ponto?

"Uma vez que ninguém foi capaz de refutar esse ponto, ele deve ser verdadeiro."

Ignorando a óbvia falácia lógica em tal declaração, é possível que ninguém tenha visto quaisquer comentários serem feitos. Devido ao alto volume do alt.atheism, é seguro apostar que muitos leitores tenham "kill files", conjuntos de instruções para seus programas leitores de notícias para executar automaticamente quando entram no newsgroup. Kill files podem ser usados para executar todos os tipos de tarefas úteis, tais como pegar respostas para seus próprios artigos, selecionar assuntos em que você está interessado ou ignorar artigos sobre coisas que você acha aborrecidas.

Às vezes alguém consegue irritar os leitores do alt.atheism o bastante para que muitas pessoas programem seus leitores para descartar todas as suas postagens. É mesmo possível fazer com que alguns leitores ignorem todos os artigos que mencionem uma pessoa em particular. Por isso, nunca assuma que o silêncio na resposta a um argumento na Usenet significa que ele não pôde ser refutado. É mais provável que signifique que ninguém está sequer lendo. Muito poucos argumentos apresentados no alt.atheism passam sem comentário. Por favor não reenvie artigos inteiros com uma nota dizendo "por favor alguém refute isso." Se todos ignoraram o artigo, as chances são de que eles o fizeram porque não quiseram vê-lo. Observe o newsgroup por algum tempo, e você terá uma boa idéia de quem está em muitos kill files. Se você quiser saber como programar um kill file, consulte a página do manual do seu leitor. Se você usa rn, trn ou strn, você pode procurar em "rn kill file FAQ", postado em news.answers.regularly.

A Bíblia diz "Não Matarás"

"A Bíblia diz 'Não Matarás'; ainda assim muitos cristãos servem nas forças armadas. Que hipócritas!."

O mandamento seria traduzido mais adequadamente como "Você não assassinará." A maioria das traduções modernas da Bíblia o expressam dessa forma.

O que significa "xian"?

"O que a abreviatura 'xian' significa? É um insulto?"

"Xian" é abreviatura e "Christian" (cristão/cristã) da mesma forma que "Xmas" é abreviatura de "Christmas" (natal). A letra X representa a letra inicial chi do grego "kristos", significando "Christ" (Cristo). Não é um insulto. Outra variante é "Xtian."

A Bíblia diz que o pi é 3!

Em Reis 7:23, a Bíblia diz:

"Hirão fez também o mar de bronze, que tinha dez côvados de uma borda à outra, perfeitamente redondo, e com altura de cinco côvados; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados."
Se você fizer o mar de bronze com uma circunferência de trinta côvados, você encontrará que o diâmetro é 30/pi, ou 9,55 côvados. Ou dez côvados para arredondar para o inteiro mais próximo.

Resumindo, a Bíblia não diz que o pi é três, a não ser que você resolva assumir que os números dados são precisos, ao invés duas figuras significativas, o que é justificável dadas as expressões usadas.

Notas do Editor

1 - Uma refutação detalhada ao argumento do relojoeiro encontra-se no livro "O relojoeiro cego" de Richard Dawkins.
URL do autor:
http://www.infidels.org/news/atheism/electronic.html
URL do texto original:
http://www.prism.gatech.edu/%7Espc/library/atheism-faq.html
Traduzido por:
Arnaldo Elias

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