Derrubando 10 Mitos Sobre Ateus

É necessário observar que as refutações abrangem apenas os ateus convictos, de entendimento racional e científico das coisas. Não estão incluídos pseudo-ateus, "descrentes de fim-de-semana" que dizem coisas do tipo "se eu não passar no vestibular, deixo de crer em Deus" e já se acham verdadeiros ateus quando na verdade estão apenas renegando sua religião por algum motivo passional e demonstrando fé inconvicta.

1. "Ateus são seguidores do demônio."
Como se pode seguir um demônio quando não se crê em nenhum? Como seguir alguém em cuja existência simplesmente não se acredita? Normalmente quem crê em demônios crê imediatamente em entidades supremas, em deuses que os tais demônios antagonizam. Como o ateu não crê em deuses, não há razão nenhuma que o faça crer nos seus antagonistas malvados. Além do mais, a proferição desse mito dá à pessoa que o ouve o direito de responder algo do tipo "Você está rejeitando os deuses tupis. Está seguindo direitinho o caminho de Anhangá*!".
*o deus demoníaco da mitologia tupi


2. "Ateus são imorais e não têm consciência de cometimento de crimes."
Muito pelo contrário, os ateus costumam seguir com zelo as leis humanas, muito mais até do que muitos religiosos que vivem em torno dos preceitos "legais" de sua religião. Como não há a crença em vida após a morte, há uma preocupação mais intensa em viver melhor a vida, com o máximo de proveito e com o mínimo possível de transgressões às normas sociais e leis. A opinião de muitos descrentes é de que fazem o bem porque é certo e benéfico para si e para o próximo e evitam o mal por consciência de que é prejudicial aos mesmos, em oposição a muitos crentes* que seguem a linha de ser bom em vez de mau mais pelo interesse de ser recompensado pela divindade e pelo medo de ser castigado pela mesma. Mais raramente, pesa também o medo de se perder um grande pedaço da vida na cadeia. Um outro argumento, bem mais contundente, é a estatística da população carcerária nos Estados Unidos, a maior do mundo. Algumas estatísticas mostram uma desproporção entre a porcentagem de ateus no país (cerca de 10% da população) e a população ateísta nas prisões (menos de 1%). O que não quer dizer, entretanto, que ateus sejam mais morais e corretos do que religiosos. Mas também não são menos zelosos à lei do que os crentes*.
*Quando digo "crentes", me refiro a todos que crêem em uma ou mais divindades, e não apenas a evangélicos como é feito pelo senso comum.

3. "Ateus são mais propensos ao suicídio."
A realidade nos mostra exatamente o contrário. Como já dito, os ateus têm muita paixão pela vida, como sendo ela única e desprovida de sucessão. A maioria dos ateus convictos, que largaram a fé pela Razão e pelo convencimento científico, costuma valorizar muito a vida que têm, dedica-a a produzir o máximo possível de bons frutos e bons legados e a curtir os prazeres oferecidos pelo universo o máximo possível. É ao menos uma razão especial que protege muitos descrentes de pensarem na "alternativa" de "fugir" de uma vida reversivelmente problemática. É certo que o ateísmo, no entanto, não imuniza ninguém contra fraquezas psicológicas ou situações críticas virtualmente irreversíveis que despertam tendências suicidas. Em contrapartida, a religião também não: estatísticas policiais ao redor do mundo mostram que religiões não protegem as pessoas de fraquezas psicológicas que levam ao suicídio; e Durkheim, no final do século 19, mostrava num de seus livros mais importantes que, por motivos envolvendo coesão social, livre-arbítrio e severidade de pecado, protestantes se matavam mais do que católicos, os quais por sua vez se suicidavam mais do que judeus. Nem por isso os mesmos cristãos que acusam repetidamente o ateísmo de facilitar o suicídio aceitam a conversão ao judaísmo.

4. "Ateus são mais infelizes com a vida."
A primeira parte da refutação do mito anterior serve também para derrubar este, junto com uma análise crítica do padrão de comportamento de muitos religiosos fundamentalistas. A internet está repleta de depoimentos de cristãos controlados por normas bíblicas que impõem censuras infames, por exemplo, à masturbação, ao gosto musical secular, ao uso de roupas ao livre gosto e até à livre leitura. É freqüente ver esse tipo de crentes enfrentando acessos de sufocamento psicológico por causa desse bloqueio a costumes seculares e até a hábitos instintivos naturais, como uma garrafa prestes a estourar por pressão interna. É o caso das conhecidas como "crentes de traseiro quente". Há também uma indesejada freqüência de depoimentos de mulheres religiosas que, sob determinação "sagrada", prestam voluntária submissão e auto-humilhação a seus namorados ou maridos, mesmo quando estes lhes provêm uma vida mal-amada. Entre esse tipo de vida cheio de privações -- que, a saber, seria de fato a verdadeira orientação de vida dada pela Bíblia, considerando a "imutabilidade da palavra de Deus" -- e o usufruto da liberdade secular, é possível deduzir onde há de fato mais infelicidade.

5. "Para os ateus, a vida não tem sentido."
Reinvocando a desmascaração do mito nº3, lembremos que grande parte dos ateus convictos geralmente são apaixonados pela única vida que possuem, preocupam-se a construir bons legados, bons frutos. E o melhor, sem os interesses da expectativa por recompensas divinas ou o medo de perder pontos com alguma divindade ou ser punido por ela. O sentido de viver varia subjetivamente de um ateu para outro, dependendo da função e condição pessoal de vida que abraçou, mas há os interesses comuns de gerar bons frutos -- como filhos bem-educados e amados, livros e lembranças saudosas -- e aproveitar os prazeres fornecidos pela vida, pela natureza, pela tecnologia. Mesmo que, depois de tudo, venha um cometa "furioso" e destroce a Terra pondo fim a qualquer legado humano. O que interessa é o prazer de fazer o bem a si mesmo e aos outros. Vale também questionar: será que as vidas de pessoas como Auguste Comte, Richard Dawkins, Sigmund Freud, Steve Jobs e José Saramago realmente não têm/tinham sentido?

6. "O ateísmo é a causa dos grandes crimes contra a humanidade."
Os religiosos costumam citar como grandes criminosos ateus Stálin, Pol Pot, Mao Tse-Tung, Milosevic e até Hitler. Em primeiro lugar, o "ateísmo de Hitler" é uma mentira que calunia contra as convicções morais dos ateus: ele não era ateu, e sim cristão adotante de elementos católicos e protestantes. Por várias vezes ele defendeu a religiosidade como aliada na construção do seu império açougueiro, conforme podemos ler em muitos livros e sites respeitáveis de história do século 20. E em segundo lugar, não existe uma "ideologia do ateísmo" que mande matar religiosos. A real ideologia dessas personalidades era o nazismo ou o comunismo. No caso do nazismo, a religião, segundo o próprio Hitler, ajudava na doutrinação do povo para aqueles ideais supremacistas lunáticos. Já o comunismo tratava as religiões como ideologias de oposição e, como qualquer corrente oposicionista era intolerada e perseguida, aconteceu a caça às religiões no território dos países dominados por esses ditadores. Os crimes dessas ditaduras não foram fruto do Ateísmo, mas sim do lunatismo ideológico político, nacionalista e racial. Convém, em seguida, ressaltar que uma grande maioria dos ateus é a favor da democracia e da liberdade religiosa e contra regimes autoritários, os quais impõem dogmas ideológicos muito parecidos com os religiosos. É virtualmente globalizada a idéia de que o despertar de verdadeiros ateus é espontâneo e não pode vir da proibição de religiões.

7. "Os ateus são fechados para experiências espirituais e sentimentos."
Muitos religiosos insistem na falácia de condicionamento da existência de sentimentos à crença em divindades. Contra ela, é de se relevar que amor, medo, alegria, admiração prazerosa, são sentimentos que ocorrem em todos. Sentimentalidade é inerente ao humano e independe de divindades. A única "diferença" entre os sentimentos dos ateus e os dos religiosos é que os primeiros não os atribuem a deuses, espíritos ou manifestações divinas, e sim a estímulos cerebrais. Não é por essa noção de sentimentos serem estímulos cerebrais que quem a adota não pode tê-los. Lembremos também que animais não-humanos de inúmeras espécies com complexidade neurológica significativa também possuem sentimentos explicitamente expostos. Também sentem alegria, medo, tristeza, prazer, etc. e não precisam de nenhuma crença religiosa para tal.

8. "Ateus são fechados para a beleza da natureza."
Essa falácia é "irmã" da mentira do fechamento sentimental dos ateus. Não há absolutamente nada que impeça um ateu de dizer: "O mundo e o universo são lugares extremamente belos, e quanto mais os compreendemos mais belos eles parecem." (Richard Dawkins) Seu êxtase por coisas bonitas é igual ao de qualquer religioso. Um descrente também vê beleza e enxerga sentido natural intrínseco em elementos costumeiramente julgados como "feios" e "produtos de entidades sobrenaturais malvadas", como ervas daninhas e vermes. E nada impede que o entendimento científico, mesmo vindo daquela Biologia do ensino médio, dê a idéia de como a dinâmica da natureza é bem-elaborada. E falando em conhecimento científico, de certa forma pode-se deduzir que há mais admiração à natureza por um ateu, que conhece mais profunda e detalhadamente fenômenos naturais, corpos espaciais e elementos biogeoecológicos, do que por crentes que se prendem a crenças religiosas que não explicam, por exemplo, as dinâmicas celulares, a astronomia galáctica e os detalhes menores dos fenômenos meteorológicos e geológicos. E por mais imperfeições que um descrente enxergue no universo, como a questão astronômica da destruição em massa contra planetas, sua admiração pelas belezas naturais mantém-se longe de ser abalada. Não há nada de errado em entrar em comunhão com um ecossistema que pode ser abatido por um tsunami ou um meteoro num futuro próximo.

9. "Ateus são arrogantes e acham que sabem tudo."
Esse é um mito carregado de injúria vindo de pessoas que não "vão com a cara" de uma ciência que freqüentemente derruba suas "teorias" mitológicas. Um ateu geralmente tem a humildade de reconhecer que não sabe o que é tal coisa quando se depara com algo desconhecido. Por exemplo, o que ele vai responder quando alguém lhe pergunta quantos planetas há naquela galáxia localizada a 100 milhões de anos-luz da Terra, fora um natural "não sei"? Ao contrário das religiões, ateus não criam narrativas fantasiosas para acharem que conhecem aquilo que no fundo não sabem do que se trata.

10. "Ateus são dogmáticos."
Vale questionar: qual é o dogma, aquela "verdade" tratada como absoluta e inquestionável, que existe no simples não-crer? E qual é o dogma que sustenta a rejeição de crenças injustificadas e sem comprovação válida? Reparemos bem que dogmas não são usados para analisar e refutar crenças infundadas. O engraçado é que o mesmo pessoal que chama ateus de "dogmáticos" não nota que, se rejeitar um deus e um método de cosmogonia criacionista específicos é dogma, eles estão sendo multiplamente dogmáticos ao rejeitarem tantos deuses e tantas outras narrativas de origem universal e ao aceitarem os falsos axiomas de sua religião.

Robson Fernando

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